quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

DESIDERATU

Tá quase virando! Daqui a algumas horas começa a acontecer o inevitável. Aquele inevitável que vem com o aproximar da meia noite. Por mais compromissos, por mais ansiedade, por mais que a expectativa não seja lá muito grande, o pensamento vem. A nostalgia vem. O desejo vem. É o tal do balanço. Tirar e colocar pesos. Vontade de deixar malas pesadas para trás e carregar sonhos que caibam todos em um só ano.
Talvez seja a data em que mais sonhamos com um poder. Não é poder político, nem econômico. É uma forma de pensar tudo acontecendo a partir da vontade. Esforçamos a pensar que vamos fazer o impossível, mas gostaríamos mesmo era que, ao acordarmos no dia primeiro, já começassem a acontecer coisas que pelo menos nos indicassem que os sonhos estarão ao nosso alcance, feito matéria de se pode tocar. Os males estarão desfeitos, aquele plano vai, enfim, se realizar; a saúde vai estar inabalável ou melhorada mais ainda; a felicidade, ah! a felicidade, que encerra todos os desejos do mundo e fecha nosso insistente pensamento, vai deixar de ser uma meta para virar companhia onde quer que vamos e estejamos no ano seguinte. Essa tal felicidade de cada um, definida por quem a busca, sem que nada interfira (a não ser a favor); que às vezes quando chega, já não mais satisfaz porque a procura mudou, a vontade cresceu ou a necessidade mandou dizer que era mais um pouco.
E para terminar, terminar não! Não consigo, nem tem graça. Senão não é sonho.

Para continuar então, divido com você.
Paz e Bem em 2009.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

MARIA DELFINA

Mãe, a senhora vai fazer mesmo é 76 ou 77? Tinha o hábito de esconder umas coisas de nós quando crianças, para proteger ou sei lá pra que... Dizem que a senhora mudou a idade para entrar na escola antes do tempo. Só lembro de ver em sua identidade o ano de 1931. Tinha lá também a origem: Cuiabá. Nem olhava a unidade da federação, mas achava muito chique pensar que a senhora tinha nascido em outro estado. Falava pra todo mundo que a minha mãe era de Mato Grosso. Outra descoberta tardia, mas alegre ao mesmo tempo: saber que tenho, além do sangue lusitano, um pouquinho de africano, italiano e índio botocudo. Que mistura boa virou essa nossa família! Foi bem recentemente que eu e o Thiago, seu neto de enfrentar, passamos nesse lugarejo chamado Cuiabá, ali, entre Caeté, Sabará, Nova lima e Raposos, bem abaixo da Serra da Piedade. Tinha lá antes de o progresso expulsar, uma tribo dos botocudos que remontam suas origens e as nossas. Fico pensando se o fato de a senhora gostar tanto, tanto de ir para o Espírito Santo na praia era motivado pela facilidade de transporte e preços mais em conta da colônia de férias do sindicato ou se tem a ver com um retorno às suas raízes. Contam uma história, que os botocudos vieram para Minas expulsos daquele estado e foram se espalhando pelo Brasil afora, mas a maioria se fincou aqui nas Gerais.


Mãe, o estoque de sua presença em nossas vidas não se esgota. Seja nas bravezas, nas carícias, nos ensinamentos, nos olhares que falavam ou nas palavras que calavam; acho que nunca vão ser esquecidos nem mesmo por aqueles de nossa descendência que nem te viram em vida. Maioria deles fala e pergunta de você como se estivesse aqui ainda entre nós. A senhora ultrapassou os limites que são reservados aos simples mortais.


Eu não te homenageio no dia das mães, não, que isso pra mim é coisa inventada para vender presente. A gente sempre comemorou o seu dia junto com o Natal e é tão bonito! Até hoje dá para ver direitinho a sua cara de satisfação diante de toda a família reunida. A senhora até tomava uns vinhos de leve para poder soltar mais o seu afeto e esquecer a dura trabalheira dessa cria enorme. E ainda comia bastante aquelas coisas que não podia por causa da pressão alta e do diabetes, mas dizia que se morresse, ia ser de felicidade e barriga cheia.


Nós continuamos a fazer as festas na comilança e bebedeira, mas falta a Senhora, falta o Zé João e sempre tem faltado um ou outro. A Senhora mesmo dizia que isso ia acontecer. Mas um que falta numa festa, às vezes tá em outra e assim vamos nos encontrando todos para dar um drible nessa sua predição e matar as saudades, claro. Tantos filhos que deixou e tantos netos, que muitos a senhora nem chegou a conhecer de perto. Estivesse a senhora aqui, já ia estar de bronca até com os bisnetos. Eles tão uma belezura, que só vendo. Eu também estou vivendo uma nostalgia danada, tentando conservar algum viço, já que a senhora vivia me iludindo, dizendo que eu parecia com o Kadu Moliterno, da televisão. Fala sério, né, mãe, era ou não era só para me agradar? Tem uma turma aqui que diz que tô mais para Cauby Peixoto. Se a Senhora ouvisse uma barbaridade dessas, soltava os xingos nesse povo de olho torto, tenho certeza.


Qualquer que fosse a idade, o seu aniversário é especial demais. Olha o dia!


A sua bênção para sempre.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

O QUINTO ELEMENTO

Embarquei na rodoviária de Araxá, num ônibus que vinha de Uberaba para Belo Horizonte. Paramos na cidade de Luz, naqueles restaurantes caríssimos onde uma água pode lhe custar o preço de um pedágio nas mais caras rodovias do mundo. Dois amigos suspeitos, um casal insuspeito, um bêbado insuspeitíssimo vestindo um enorme blusão grosso e cheio de bolsos, apesar do intenso calor. E a polícia. Eis o quadro com que deparei na volta do banheiro. Havia desistido da água a R$3,50, um roubo!

Entraram os policiais no ônibus, revistaram os dois suspeitos, mandaram o trocador abrir o bagageiro, retiram suas malas (muitas) e reviraram tudo, a ponto de rasgar dois travesseiros que estavam no meio das coisas. Alguém havia denunciado que havia drogas. Quase uma hora de procura e a decepção de todos os curiosos e da polícia diante do fiasco. Liberada a viagem, os suspeitos, muito educados, se desculparam com o motorista e os demais passageiros pelo transtorno. Cada um sentou em poltrona separada, inclusive o casal, que já não trocava mais carinhos insuspeitos diante da cena da revista.

Chegando ao destino, antes da rodoviária, eis que descem todos os cinco no mesmo ponto de parada numa animada conversa e o bêbado(?) completamente são, mas com a mesma blusa. Acho que estava recheada. Eis o golpe do quinto elemento.

Lembrei-me de uma crônica do Fernando Sabino: uma velhinha passava todos os dias pela alfândega montada numa moto com um saco de areia na garupa. Até que começou a incomodar a fiscalização. Todo mundo ficava intrigado e resolveram abordar a velhinha. Era areia que havia. Todos os dias conferiam para ver o conteúdo do saco. Areia. Um fiscal insistia que ali tinha coisa. E tinha mesmo: areia. Cansados, mas não vencidos um dia resolveram lhe perguntar o que ela contrabandeava, com a promessa de que nada fariam contra ela. Era moto.

domingo, 14 de dezembro de 2008

CULINÁRIAS HILÁRIAS - FEIJOADA

Religiosamente eu diria que a fome é um pecado. Não cometido por quem a possui, mas por quem a provoca. E ela acaba operando milagres, numa espécie de contradição dos preceitos divinos. Mas o que seria da crença do homem em Deus se não fossem as suas contradições, não é mesmo? Explico o caso.

Havia no sábado nebuloso (descrevo o tempo porque não posso ver o céu escurecendo ou um ventinho mais frio que dá vontade de comer feijoada), comprado todos os ingredientes para uma completa no dia seguinte. Uma pausa: as chamadas ‘feijoadas completas’ dos restaurantes ganharam adjetivo por causa dos acompanhamentos; que para um cozinheiro que se preza não passam de obrigação – arroz, laranja, couve, farofa e, claro, caipirinha. Para quem admira, a feijoada completa mesmo é aquela que diziam na minha terra: leva até a tábua do chiqueiro no seu preparo.

Então veio tudo separadinho e salgado. Do rabo ao focinho do porco, só não vieram os pelos. Já comecei a preparar o apetite no sábado, fazendo a concentração como jogadores de futebol em véspera de jogo. E esqueci de deixar os ingredientes em molho de água. E tomei bastante caipirinhas a ponto de ficar sem sal nos miolos no dia seguinte.

Ai vem o ritual: picar tudo direitinho e preparar, sem segredo, o manjar dos mineiros. E mais caipirinha porque rituais não podem ser profanados.

Na hora de comer ninguém suportou de tanto sal. Eu havia colocado ainda mais tempero, como se fizesse uma comida normalmente. Dizem que nosso apetite é regido pela sequência (já estou estreando sem o trema) olfato, visão, paladar - nessa ordem. Os dois primeiros sentidos ficaram perfeitamente atendidos, o paladar, intragável.

Agora vem a solução pela fome. O Vinicius, grande amigo e morador de uma das repúblicas da universidade local (isso foi na cidade de Mariana), chegou no momento em que me preparava para jogar tudo fora. Pediu se poderia levar para sua casa, resistindo aos meus argumentos sobre a impossibilidade de se digerir comida tão imprópria para o consumo humano saudável. Cedi diante do imponderável.

Na sei que milagre ele realizou para ‘consertar’ a feijoada ou se mentiu no dia seguinte ao retornar com a panela lavada, dizendo que havia sido um banquete para seus colegas república.

sábado, 6 de dezembro de 2008

UM GRITO

Como um pêndulo, o mundo oscila em seu momento mais trágico, cômico também. Perdemos dinheiro em bolsas, perdemos dignidade na Somália, perdemos o rumo em Darfur (África). Somos a antítese, somos o pano grosso da indecência, chutamos o nosso amor próprio para o canto da sala. Predomina em nós uma violenta apatia, tendo como substrato a indiferença. Não pensamos mais, apenas buscamos o nosso tão sonhado final de semana. Vamos sorrir, vale a pena.”

Tene Cheba

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

AEDO CIBERNÉTICO - TERRA

UMA ÓTIMA SEMANA!

sábado, 29 de novembro de 2008

GORDURA

Tudo começou pelo excesso. Nos primeiros tempos a humanidade produzia tudo o que era necessário para seu sustento e reprodução até que algumas coisas começaram a sobrar. E em vez de repartir o homem começou a acumular. O que acumulava era guardado em algum lugar. Dinheiro nos sacos, depois em colchões e depois bancos. Mercadorias em silos e depois galpões e depois lojas e supermercados. E veio a usura e o comércio. E a riqueza e fartura não eram mais de todos, mas de quem as acumulava.

Enquanto o homem consumia a gordura e o açúcar para seu sustento e reprodução ia tudo muito bem. São elas que dão sabor aos alimentos e são naturais e necessários ao corpo. Até aparecerem os gulosos, os mesmo já acostumados à acumulação. E começaram também a acumular gorduras. Só que nos lugares mais indesejados. Barrigas, pernas, braços e em outras partes do corpo por não terem como guardá-las em outro lugar. Com sua inteligência o homem foi disfarçando o seu consumo porque, diferentemente de outras sobras que acumulou, a gordura não lhe dá soberba nem vaidade. E foi inventando coisas como os realçadores de sabor que, não são gordura nem açúcar, mas fazem tanto ou mais mal à sua beleza e vaidade que os originais.

A ansiedade, que havia sido criada para a preocupação com a acumulação de bens materiais aumentou com a de acumulação de gordura. E com ela aparecem os médicos especialistas e os psicanalistas. Os primeiros para oferecer as panacéias para a diminuição do corpo adiposo e os segundos para curar os incômodos da alma rechonchuda.

Então, o envelhecimento passou a fazer parte das preocupações juntamente com tudo isso através dos radicais livres. Como foi em uma época de ditadura que eles foram descobertos, tinha-se que eliminar os radicais. Ainda mais os livres. Como não havia como eliminá-los com tortura ou à bala, foram criados medicamentos e descobertos alimentos que os combatem sem muito sofrimento, mantendo uma pele linda e saudável (mesmo que envelhecida por dentro).

Assim caminha a vaidade.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

CUITELINHO

PARA RUI DIAS (VÉIO) COM CARINHO


Talvez você não venha a ler isto, mas ouça essa canção que é sua e lhe fez tão bem.

Os amigos a quem tanto amamos não se esvaem, não se acabam.

“Fica sempre um gosto de perfume” porque “o cuitelinho não gosta que o botão de rosa caia.”

domingo, 23 de novembro de 2008

AEDO CIBERNÉTICO - QUE MARAVILHA

QUE CHUVA QUE NADA!

sábado, 22 de novembro de 2008

CULINÁRIAS HILÁRIAS - TROPEIRO

Arnaldo e eu tínhamos uma disputa velada na cozinha. Mas saudável e saborosa. Domingo sim, domingo não, trocávamos de casas e pratos preparando almoços memoráveis, regados a cervejas e ótimas conversas. Faço hoje panquecas com relativo sucesso entre meus comensais compradores e familiares e agradeço tardiamente a ele pelo ensinamento que obtive durante esse período. A massa finíssima da panqueca dele ainda é um segredo que não consegui descobrir completamente, mas não tenho recebido queixas. Pelo contrário. Também a Keka, sua companheira, foi a primeira indústria manual de batata palha que conheci, de botar no chinelo essas de pacotinho que compramos por aí. Encantava a paciência no processamento de picar finamente à mão batata por batata, secar e fritar para produzir uma crocância que não achei páreo até hoje.

Num desses almoços a seis cervejas* e dois casais, um feijão tropeiro nos levou ao hospital. Não por indigestão, que sequer deu para comer, mas para socorrer o perfeccionismo culinário. Fizemos dessa vez a quatro mãos para reduzir o trabalho individual desse saboroso mas trabalhoso prato. O perfeccionismo foi para o preparo da pururuca. Já nos finalmentes, quando faltava somente essa iguaria para fazer aquela coroa ornamental por cima do prato principal e sobrava álcool no estômago e na cabeça, o Zé assumiu a fritura com o zelo de não deixar que a pele se enrolasse na gordura quente. Tinha, segundo ele que ficar lisa como uma rodela de tomate ou uma fatia de torrada. Aquecida assazmente a gordura, colocou pele por pele e foi segurando suas pontas com dois garfos no fundo da panela para não virarem caracol. A reação correspondente à ação foi um estouro de pururuca e gordura quente espirrando por todo o seu corpo, queimando (menos mal) partes dos braços e o peito, prontamente sanado pelo amigo Dr. Márcio Galvão, que apenas nos chamou atenção pela bebedeira que não combina com trânsito nem de carro nem de fogão.

Em tempo: *a seis cervejas foi uma receita de frango que aprendi e passo a quem interessar: compre um frango, tempere e coloque no forno com fogo brando. Abra a primeira cerveja e vá tomando. Na sexta garrafa, pode desligar o fogo que está prontinho.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

AEDO CIBERNÉTICO - LAGRIMA DO SUL

PARA O DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

AEDO CIBERNÉTICO - BALADA DO LOUCO

LOUCO É QUEM NÃO É FELIZ.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

A VIDA IMITA A PIADA

Eis a piada:

O guarda dá sinal para o carro que seguia em alta velocidade. Diz ao motorista:

- Sabe que posso lhe tirar a carteira?

- Que bom, eu tô mesmo precisando! Já fui reprovado quatro vezes.

- Cadê o cinto de segurança?

- Está lá atrás, amarrando o botijão de gás.

Impaciente, o guarda vira para a mulher deste:

- Seu marido é sempre engraçadinho assim?

- Não, senhor, só quando está embriagado.

Pois bem, o moço real, vê seu combustível acabar em pleno centro da cidade, em plena segunda feira pela manhã. Ia trabalhar. Empurrou o carro até uma esquina menos movimentada enquanto ia a um posto comprar gasolina. Na volta, depara-se com o guarda.

- O senhor vai ser multado por parar em uma vaga reservada para deficientes.

- Mas, eu só fui buscar uma gasolina...

- Mais uma multa. Não sabe que pelo novo código de trânsito é proibido ficar sem combustível na rua?

- É que o marcador não está funcionando direito...

- Mais uma! Falar nisso, o senhor está com um bafo danado. Sopre aqui. Deu zero vinte e dois. Alcoolizado a essa hora da manhã?

- Isso não! Eu bebi ontem à noite. Foi aniversário de minha mulher...

- É, mas parece sua noite acabou agorinha mesmo. Nem deu tempo de diluir nos buchos. São mais novecentos e poucos reais. E por falar nisso, ligue o carro aí, que o senhor tem que liberar a vaga e descomplicar o trânsito. Aproveite e acenda as luzes, ligue as setas e pise no freio.

- Pronto!

- Pronto, mas não acabado. O farolete está queimado, a seta esquerda não funciona e não tem luz de freio. O carro será apreendido.

- Mas seu guarda, é meu instrumento de trabalho!

- Não tem problema, o senhor disse que é eletricista. Ninguém lhe confiará algum serviço com um instrumento desses. Depois que pagar as multas, pode ir buscar o carro no pátio do Detran.

Ele sai e comenta com esse curioso aqui que estava observando a cena:

- Vou deixar esse carro prá lá. Seu valor não paga nem as multas.

domingo, 16 de novembro de 2008

PREGUIÇA

“A preguiça é a mãe do progresso. Se não fosse a preguiça, o homem não teria inventado a roda.” (Mário Quintana).

Existem palavras, expressões e gestos amaldiçoados pela sociedade. A preguiça é uma delas. Com exceção daqueles já acostumados desde muito cedo à indolência, é muito difícil conviver com a preguiça, na mesma intensidade que é com a sensação culposa que ela nos traz. Pessoalmente, acostumei desde muito cedo a ouvir de meu pai ante uma cara feia que fazíamos quando nos mandava executar alguma tarefa: “quem quer faz, quem não quer, manda.” Como não mandava nem na minha fome, aprendi a plantar, capinar a horta, colher e ainda cozinhar antes de comer. Então resolvi pesquisar na internet a frase fenomenal do Quintana e deparei-me com outro monstro sagrado da literatura. Fiquei até com preguiça diante de minha insignificância perto deles. Por isso reproduzo acima a frase e abaixo o texto do Veríssimo. Nunca iria conseguir produzir texto melhor. Nem com todo ânimo do mundo.

O que move a Humanidade.

Luis Fernando Verissimo

Existem muitas teorias sobre o que fez o Homem dominar o planeta e construir civilizações - enquanto o joão-de-barro, por exemplo, só consegue construir conjugados - e levar grandes mulheres para a cama - enquanto o máximo que um gorila conseguiu foi segurar a mão da Sigourney Weaver. Dizem que o cavalo é mais bonito do que o Homem e que a barata é mais resistente, mas não há notícia de uma fuga a três vozes composta por um cavalo ou uma liga de aço inventada por uma barata. Tudo se deveria ao fato de uma linhagem particular de macacos ter desenvolvido o dedão opositor, com o qual conseguiu descascar uma banana e segurar um tacape, as condições primordiais para dominar o mundo. A vaidade, outra característica exclusivamente humana (o pavão também é vaidoso, mas não gasta uma fortuna com as penas dos outros para fazer sua cauda), também teria contribuído para que o Homem prevalecesse, pois de nada lhe adiantariam suas façanhas com o polegar, e com as mulheres, se não pudesse contar depois. Daí nasceu a linguagem, e com ela a mentira. E o Homem estava feito.

Mas eu acho que a verdadeira força motriz do desenvolvimento humano, a razão da superioridade e do sucesso do Homem, foi a preguiça. Com a possível exceção da própria preguiça, nenhum outro animal é tão preguiçoso quanto o Homem. O desenvolvimento do dedão opositor nasceu da preguiça de combinar dentes e garras para comer e ainda ter que limpar os farelos do peito depois. A linguagem é fruto da preguiça de roncar, grunhir, pular e bater no peito para se comunicar com os outros e, mesmo, ninguém agüentava mais mímica. A técnica é fruto da preguiça. O que são o estilingue, a flecha e a lança senão maneiras de não precisar ir lá e esgoelar a caça ou um semelhante com as mãos, arriscando-se a levar a pior e perder a viagem? No que estaria pensando o inventor da roda senão no eventual desenvolvimento da charrete, que, atrelada a um animal menos preguiçoso do que ele, o levaria a toda parte sem que ele precisasse correr ou caminhar? Dizem que a agressividade e o gosto pela guerra determinaram o avanço científico da humanidade e se é verdade que a maioria das invenções modernas nasceu da necessidade militar, também é verdade que o objetivo de cada nova arma era o de diminuir o esforço necessário para matar os outros. O produto supremo da ciência militar, o foguete intercontinental com ogivas nucleares múltiplas, é uma obra-prima da preguiça aplicada: apertando-se um único botão se matam milhões de outros sem sair da poltrona. Uma combinação perfeita do instinto assassino e do comodismo. A apoteose do dedão.

Toda a história das telecomunicações, desde os tambores tribais e seus códigos primitivos até os sinais de TV e a internet, se deve ao desejo humano de enviar a mensagem em vez de ir entregá-la pessoalmente ou mandar um guri resmungão. A fome de riqueza e poder do Homem não passa da vontade de poder mandar outros fazerem o que ele tem preguiça de fazer, seja trazer os seus chinelos ou construir as suas pirâmides. A química moderna é filha da alquimia, que era a tentativa de ter o ouro sem ter que procurá-lo ou trabalhar para merecê-lo. A física e a filosofia são produtos da contemplação, que é um subproduto da indolência e uma alternativa para a sesta. A grande arte também se deve à preguiça. Não por acaso, a que é considerada a maior realização da melhor época da arte ocidental, o teto da Capela Sistina, foi feita pelo Michelangelo deitado. Proust escreveu o Em Busca do Tempo Perdido deitado. Vá lá, recostado. As duas maiores invenções contemporâneas, depois do antibiótico e do microchip, que são a escada rolante e o manobrista, devem sua existência à preguiça. E não vamos nem falar no controle remoto.

(Se você não desistiu na segunda linha e leu até aqui, é porque não tem preguiça. Conheço o seu tipo. É gente como você que causa os problemas do mundo. São vocês que descobrem quando o autor está com preguiça e reaproveita um texto antigo. E isso não é humano!

sábado, 15 de novembro de 2008

AEDO CIBERNÉTICO - CORAÇÃO CIVIL

Ora (direis) ouvir estrelas?

Certo perdeste o senso

E eu vos direi, no entanto,

Enquanto houver espaço, corpo, tempo

E algum modo de dizer não,

Eu canto.

(Belchior misturado com Olavo Bilac)

XV DE NOVEMBRO - MEU HINO DE REPÚBLICA

CORAÇÃO CIVIL (M. NASCIMENTO)
Quero a utopia, quero tudo e mais
Quero a felicidade nos olhos de um pai
Quero a alegria muita gente feliz
Quero que a justiça reine em meu  país
Quero a liberdade, quero o vinho e o pão
Quero ter amizade, quero amor, prazer
Quero nossa cidade sempre ensolarada 
Os meninos e o povo no poder, eu quero ver
São José da Costa Rica, coração civil
Me inspire no meu sonho de amor Brasil
Se o poeta é o que sonha o que vai ser real
Bom sonhar coisas boas que o homem faz
E esperar pelos frutos no quintal
Sem polícia, nem a milícia, nem feitiço, cadê poder?
Viva a preguiça viva a malícia que só a gente é que sabe ter                  
Assim dizendo a minha utopia 
Eu vou levando a vida, eu vou viver bem melhor
Doido prá ver o meu sonho teimoso um dia se realizar. 

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

AEDO CIBERNÉTICO - GOODBYE YELLOW BRICK ROAD

UMA VIAGEM


quinta-feira, 13 de novembro de 2008

PEQUENA CANÇÃO DA ONDA

Para Clara

Os peixes de prata ficaram perdidos,
com as velas e os remos, no meio do mar.
A areia chamava, de longe, de longe,
Ouvia-se a areia chamar e chorar!

A areia tem rosto de música
e o resto é tudo luar!

Por ventos contrários, em noites sem luzes,
do meio do oceano deixei-me rolar!

Meu corpo sonhava com a areia, com a areia,
desprendi-me do mundo do mar!

Mas o vento deu na areia.
a areia é de desmanchar
Morro por seguir meu sonho,
Longe do reino do mar!

(Cecília Meireles)

domingo, 9 de novembro de 2008

AEDO CIBERNÉTICO - O VELHO E A FLOR

UMA ÓTIMA SEMANA

sábado, 8 de novembro de 2008

CHARADA FAMILIAR

Conversa de uma mãe com seu filho de quatro anos, reproduzida em programa sobre as famílias novas e complexas, apesar de não mais problemáticas do que as consideradas normais.


- Mãe, o Julinho é seu filho?

- Não, ele é filho do primeiro casamento do seu pai.

- E o Marcelo é seu filho?

- Ele é filho do segundo casamento do papai.

- A Belinha é filha do papai também?

- Não, ela é filha da mamãe, do primeiro casamento.

- (???) Mãe, eu sou seu filho?


Eu, além de me identificar não resisto e proponho que decifrem a minha charada familiar. Minha família também é diferente, mas não dá mais trabalho por isso. Tentem:


Minha filha mais velha tem três irmãos, sendo que só dois deles são irmãos entre si. A minha filha mais nova tem uma irmã mais velha e não é irmã dos outros dois que são irmãos da mais velha. Ou seja, tenho duas filhas, sendo que a primeira tem três irmãos e a segunda tem uma irmã.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

DUELO MUSICAL

Há uns tempos, quando as brigas ainda eram líricas, contavam que Paulinho da Viola havia criticado o Benito de Paulo por estar matando o “samba” (ele, o Benito, só compunha ao piano). Então o Benito fez essa música em resposta à afronta.


OSSO DURO DE ROER

(BENITO DE PAULA)


Estão querendo tirar meu nome do samba
Tirar meu tempo de bamba
Dizendo até que eu já me despedi
Mas ainda não chegou minha vez de ir embora
Deixa essa gente falar
É inveja que eles sentem
Estão querendo acabar comigo de vez
Eu não ligo, eu não sou freguês
Vou ficar com meu samba osso duro de roer
É que ainda não chegou minha vez de ir embora
Deixa essa gente falar
É inveja que eles sentem
Canto mais um samba
Que é pra todo mundo ver
A minha bandeira do samba
Deus ajuda a defender

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Bem, aí, como bom desafiante, o Paulinho deu a resposta e cravou no peito do Benito um


ARGUMENTO (OUÇA)


Tá legal
Tá legal, eu aceito o argumento
Mas não me altere o samba tanto assim
Olha que a rapaziada está sentindo a falta
De um cavaco, de um pandeiro ou de um tamborim

Sem preconceito ou mania de passado
Sem querer ficar do lado de quem não quer navegar

Faça como um velho marinheiro
Que durante o nevoeiro
Leva o barco devagar

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

VINTE E UM MINUTOS PARA O SÉCULO XXI

São 21 minutos que valem a pena ser “perdidos” na era da falta de tempo e de apatia. Mudaram os tempos e os métodos também devem mudar. Quem sabe isso não ajude a sensibilizar, a mobilizar mentes, a comover corações e movimentar corpos. À LUTA, GENTE!

Cliquem, vejam, divulguem, levem para escolas, associações, sindicatos, casa, rua, para todo o planeta.


http://www.unichem.com.br/videos.php

NA PINDURA

O mundo é movido a fiado. Fui comparar a minha condição e de muita gente que conheço com a situação das grandes empresas do mundo e o negócio é o seguinte. O fiado é que faz o mundo andar. Taí a crise para não me deixar mentir. Começou a reclamação exatamente por aqueles que dizem mais ter dinheiro. Todos estão na retranca por falta de crédito, dizendo que sem ele terão que adiar planos de investimentos, empregos, etc, numa roda, ou melhor, numa verdadeira bola de neve. Dá a impressão que é todo mundo avarento no mundo dos ricos. Têm muito capital mas ele é todo guardado e vão movimentando a economia com o dinheiro emprestado. De preferência dos governos, pois tem o apelo inatacável do social. Mais negócios, mais impostos, mais empregos, nessa cantilena de séculos que mantém os ricos,ricos e os pobres, pobres. Mas todos devendo. Com uma pequena diferença que o pobre quando quebra por inadimplência, quebra literalmente. Já o rico, quebra só a pessoa jurídica. A física abre outro negócio com outro nome e pega mais um empréstimos para gerar mais alegria para o povo e mais votos para os governos.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

JÁ QUE NÃO NOS DIZ RESPEITO...

(Clique sobre a imagem para vê-la ampliada. Tem muito mais gente dormindo)

PREFEITOS RECÉM ELEITOS DE MG NÃO RESISTEM À PALESTRA DO MINISTÉRIO PÚBLICO SOBRE ÉTICA E HONESTIDADE NA POLÍTICA. (FONTE:Jornal Hoje em Dia, 30/ 10/08)

domingo, 2 de novembro de 2008

AEDO CIBERNÉTICO - SINAL FECHADO

UMA ÓTIMA SEMANA

sábado, 1 de novembro de 2008

LENDAS URBANAS

“Yo no creo em brujas, pero que las hay, las hay.” (Cervantes)

Não sei se é bom ou mau para a formação da personalidade, caráter ou é só o medo às vezes necessário à preservação da vida essa história de fantasmas e outros assombros que acompanham o homem desde a mais remota caverna. Mas é fato. E tem muitos que tremem só de ouvir falar em lençóis brancos, vozes graves ou ventania.

Dia desses, Clara e Amanda, filha e sobrinha, brincavam de procurar na internet relatos sobre lendas urbanas. Acompanhei várias leituras que ambas dividiam em tom de suspense à Hithcock. Cheguei a sugerir que procurassem o caso da loura do Bonfim, fantasia que corre solta aqui em Belo Horizonte. Lembrei, claro, do passado quando reuniam-se meninadas para contar casos fantasmagóricos ou à beira de um fogão à lenha, os mais velhos contando casos de assombrações , almas penadas, seres do além que vinham assustar vivos, puxar as pernas à noite.

Tutu, bicho papão, homem do saco, tudo isso já povoou a minha imaginação e dava um medão danado quando um adulto conseguia fazer aquietar de alguma bagunça somente com uma ameaça assombrosa dessas. Há tempos morei em uma casa na cidade de Itabira, cuja parede de meu quarto era o mesmo muro de um cemitério. Talvez tenha sido o lugar mais tranqüilo em que residi até hoje. Além dos mortos não produzirem nenhum ruído, quem passava próximo também o fazia em silencio, por respeito ou por medo, não importa. Era o silencio absoluto e a calma em boa companhia.

Fim de ano estava eu parado em um ponto de ônibus no centro da cidade em frente a uma loja de artigos religiosos, umbandísticos e outros produtos sincréticos para rezas e mandingas. Uma senhora (devendo me achar com cara de tolo ou acabado) se aproximou e disse que eu estava com um encosto. Só curaria se ela fizesse um trabalho de “limpeza de caminhos.” Senão eu não iria nem poder ver os fogos da virada de ano. Era coisa grave, meu semblante estaria muito carregado e minha energia fraca. Custavam quatrocentas pratas minha salvação, que eu poderia pagar de duas vezes para comprovar que a coisa era séria. Daria a entrada e voltaria lá no dia 02 de janeiro, vivinho e salvo para quitar o feitiço. Se tivesse pago teria faltado para as despesas com o funeral.

O espanto maior vem dos vivos e está aqui bem à nossa frente, através da televisão, jornal, radio, na rua, enfim, gente de carne e osso é que mais assombra. Seja por uso de violência física para obter algo ou pelo uso da violência que chamamos pelos eufemismos de ilusão, enganação, alquimia, discursos, promessas e propagandas.

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