segunda-feira, 30 de novembro de 2009

AQUELE LIVRO...

Era época de república estudantil, anos setenta e as leituras eram quase proibidas: livros, jornais e revistas, tudo muito vigiado. Chico Buarque usava o pseudônimo de Julinho da Adelaide quando queria passar alguma letra mais provocativa (ofensiva ou defensiva?). Usava-se e abusava-se das metáforas para dar um drible na censura que não possuía jogo de cintura algum e muito pouca inteligência, feito aqueles zagueiros que apelam para a botinada diante da falta de outros argumentos hábeis com a bola vindo em sua direção.


Não era raro sair às ruas pela manhã e encontrar uma banca de revistas totalmente incendiada ou destruída com pichações do CCC (auto intitulado Comando de Caça aos Comunistas). Pensar era permitido, mas se a fala decorrente desse pensamento fosse algo que estimulasse um tico qualquer de reflexão entre os interlocutores, já se configurava atentado à segurança nacional. Prisão, tortura e morte em muitos casos.


O meu problema era que gostava de ler e fui morar logo no meio de um bando de subversivos (assim chamados os que ousavam pensar com a boca aberta). Eu com 14, 15 anos e a turma toda já “de maior” , muitos estudantes universitários. Era normal circularem em casa jornais clandestinos, panfletos apócrifos e livros, muitos livros onde não se podia sequer colocar o nome do dono na contra capa para não se correr riscos caso fosse parar em mãos erradas. Às vezes, arrancam-se capas de livros tipo O Pequeno Príncipe e colavam-nas em cima da outra capa como disfarce para poder ler sossegado em lugares públicos.


Repúblicas tem um rodízio de pessoas ano após ano.Então o cara me aparece com um livro intitulado “Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas”. Puído, de tanto circular debaixo do braço. De vez em quando mudava de lado para suar por igual. Eu não sei se a intenção dele era usá-lo como manual de sobrevivência na cidade grande ou se tinha algum outro propósito mais nobre. Sei é que não saía debaixo do braço a não ser para tomar banho. Acho que até dormia com ele. “Cultura axilar”, segundo foi rotulado pelos colegas. Sei também que esse não era proibido. Um dia, enquanto ele tomava banho, olhamos para ver se a capa não era um daqueles “despistes” da censura. Não era. E me desanimei com qualquer curiosidade de ler o tal livro. O rapaz não conseguiu sequer fazer uma amizade durante sua curta estada entre os demais, quem dirá influenciar alguém com seu manual. Carrancudo e mal educado, sua lição, para mim só foi aprender um pouquinho mais a selecionar leituras. Boas maneiras eu já havia aprendido em casa de meus pais.

sábado, 28 de novembro de 2009

SOB O SIGNO DE...

“Yo no cria em brujas, pero ahora creo”

(adaptação (imprecisa) de Cervantes)



Tem uns que nascem com a lua na casa astral número tal, outros nascem com ela dentro de casa, mais exatamente dentro de partes impublicáveis do corpo. São os chamados sortudos no imaginário popular.


Outro dia a Maria Iaci escreveu aqui uma crônica de adorável humor chamada “Astrologia do Recanto”. Fui lá para ver na conspiração cósmica como era visto o virginiano escrevedor. Sabe quando se acha engraçado, mas a pulga já pula logo para atrás da orelha levando aquela coceirinha insuspeita, chamando a gente pro pensamento? Pois é, foi a comichão que me bateu na hora! E não é que no outro dia ela publicou um artigo, agora sério, chamado “Uma abordagem Racional da Astrologia” e minhas orelhas então viraram um ninho de pulgas?


Eu como bom cético e mais curioso ainda, fui lá pedir a ela para ver se era possível fazer o meu mapa astral. Quando recebi fui lendo onde estava o sol no momento do meu nascimento e o que eu tinha a ver com isso, já que nasci ao meio dia (um calorão de setembro). Depois veio a lua, os planetas, eu ali, naquele exato instante, sendo colocado no mundo. Ou o mundo foi me absorvendo?


Então foram acontecendo umas coincidências que cada linha lida era um susto. E eu pensando: “Meus Deus, mas eu nem falei nada disso com ela, nem isso, nem aquilo, oh! Isso aqui sou eu!” Parecia que era fruto de uma conversa com uma vidente, mas uma vidente que vê de verdade, com nitidez maior que a de uma bola de cristal e ainda por cima no passado e no presente.


Eu, (pensando sozinho) mas a lua, que recebe energias do sol e se harmoniza no céu com as estrelas e os planetas, não influencia as marés, não é propícia para plantar e colher em tais ou quais épocas do ano? O mar não regurgita pela sua influência, se enche e se esvazia, se revolta e se acalma ao sabor dos astros? Por que então que nesses horários em que os nascimentos coincidem com as órbitas ou posições celestes dos astros não pode haver uma conspiração cósmica entre as vidas da terra e os espectros astrais? De forma que atinja humores, tendências e outras características mais subjacentes a uma genealogia familiar?


Como se diz na filosofia mineira: Oncotô? Quem cô sô? E on cô vô? Sei que nada sei ainda, mas desconfio pra caramba e procuro conhecimento para incorporar cada vez mais significado para a minha existência.

(em horóscopo, no entanto, continuo não acreditando).



quinta-feira, 26 de novembro de 2009

VIDA DE PEÃO - ALMOÇO DE ESTAGIÁRIOS

Fui um dos últimos a chegar à cidade. Já tinha mais de vinte estagiários naquela leva que todo início de ano as empresas contratam para dar uma sugada em forma de aprendizado. É o mal necessário que faz bem no fim das contas. Então procurei um lugar para me alojar. Não conhecia ninguém, desembarquei na rodoviária com um bilhetinho da psicóloga da empresa que havia entrevistado os outros e me deu a indicação de uma república onde alguns deles estariam morando. Me receberam lá provisoriamente pois só havia vago o quarto designado para empregados no minúsculo apartamento que já estava abrigando cinco àquela altura. Pelo menos na primeira semana tive que dormir em diagonal. O quarto era tão pequeno que se eu fechasse a porta teria que dormir como um feto. Deixava as pernas sobrando para fora. Foi minha primeira implicância que tive na vida com a discriminação das construtoras. Imagino que eles calculam que se for trabalhar no local uma pessoa dos serviços domésticos, um teste eliminatório já começaria pelo tamanho. Se fosse alguém a partir de 1,70m não caberia.


Uma mina de fosfato, uma usina de beneficiamento e as instalações de auxílio à produção, típicos de uma mineradora de médio porte. O refeitório ficava próximo da oficina, do escritório e laboratório, porém muito distante da mina propriamente (onde se extraía a matéria prima). Então, os que lá trabalhavam recebiam suas marmitas no local. Depois de feitas as amizades, levávamos para casa as que sempre sobravam . Alguém que levava a sua comida de casa ou quantidade a mais que o restaurante enviava. De forma que quase todos os dias nós tínhamos o jantar garantido. A essa altura eu mais um colega já tínhamos conseguido um barracão pequeno para alugar próximo do centro da cidade. Ali, esquentávamos a comida à noite e depois de umas cachaças na vizinha dona do boteco para aliviar as saudades de casa, jantávamos.


Aos finais de semana, quando não tínhamos dinheiro para visitar os pais ou namoradas distantes, ficávamos ou trabalhando, o que era uma forma de garantir a comida também ou procurávamos lugares onde se servisse comida de boa qualidade e a preços acessíveis.

Haviam inaugurado um novo restaurante em uma antiga casa bem no centro da bela Araxá. E lá fomos num domingo todos os 23 estagiários para um almoço coletivo de parcas verbas. O restaurante servia em refeições individuais e o self service era apenas dos pratos frios e saladas, que diziam não ser cobrado. Tentamos comer, então apenas salada, mas nos disseram que não era cobrado apenas de quem pedisse a refeição completa. Ah, bom!


Um senhor de meia idade, sozinho havia pedido uma lauta refeição e creio estar de mal com a vida pois mal tocou na comida, pedindo a conta em pouco menos de 15 minutos de luta com aquele exagero. Um dos colegas mais afoitos e cara-de-pau foi então ao garçom e solicitou a comida que o moço havia deixado, alegando que esta estava intocada, sem babugem como se dizia . O garçom alegou que não poderia autorizar uma vez que a comida teria que ser devolvida e descartada. Não era prática comum no lugar. Não satisfeito, foi até o gerente reiterar o apelo ao que ouviu a mesma cantilena. Segundo ele, seria um crime contra os padrões sanitários e a comida tinha obrigatoriamente que ser jogada fora. Como a fome não é vencida com argumentos e o dinheiro sendo escasso resolveu apelar à última escala do destino da comida antes da lixeira: o pessoal da cozinha. O garçon já estava recolhendo tudo e colocando naquele balcãozinho de acesso à cozinha e ele lá foi argumentar com a senhora que a recebia e travou-se o diálogo apelativo:


- Dona, eu sei que a senhora não vai ter coragem de fazer uma coisa dessas. Deixar esse monte de rapazes famintos e jogar no lixo uma comida que mal foi mexida?

- E quem lhe disse isso? Ela respondeu questionando.

- O garçom e também o gerente.

- Que que é isso meu filho, se a gente jogar fora eles até nos mandam embora! Isso aqui nós temos que reaproveitar!


Comemos a refeição paga. Acho que foi a mesma que o moço deixou, inteirada com outro tanto suficiente para vinte e três estagiários famintos.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

ESTANQUEI DE REPENTE OU FOI O MUNDO QUE CRESCEU?

“...Sim, meu coração é muito pequeno.
Só agora vejo que nele não cabem os homens.
Os homens estão cá fora, estão na rua.
A rua é enorme. Maior, muito maior do que eu esperava.
Mas também a rua não cabe todos os homens.
A rua é menor que o mundo.
O mundo é grande...” (Mundo Grande, Drummond)

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MUDANÇAS

Desde pequena eu vivo mudando de cidade, de jeito, de estado,de forma.
Com 4 anos, de Mariana mudei para Belo Horizonte.
Com 4 anos depois da separação de meus pais, mudei para Piumhi.
Com 5 anos eu fui de Piumhi para Itirapuã.
Com 6 anos eu era uma criançinha.
Com 7 anos mudei para Abaeté.
Com 9 anos voltei para Piumhi.
Com10 já não sou mais criança,sou pré-adolescente.
Na 5º série já não sou mais boba.
Mas no mundo sou uma poeirinha.

(Clara, minha filha de 11 anos)



O mundo de repente parece que cresceu. Ou vejo-o diferente Foi a velocidade da informação que fez essa aproximação. O que antes era ameaçador quando eu tomava conhecimento agora espanta se não tiver sido visto. Como se ficasse aguardando a tragédia do dia, o estupro, o roubo inédito, o escândalo do momento, a fama repentina de mais um desconhecido, a dica do último especialista e outras efemeridades que passeiam ao meu alcance numa velocidade inimaginável há vinte, trinta anos. O sobressalto deixou de fazer parte do contato com o noticiário para se transformar em oportunidade para alguns, indiferença para os de sempre e escárnio para outros. A indignação coletiva revertida em alguma ação transformadora continua em último lugar, como sempre foi desde que o mundo é mundo.


Para quem está habituado com o mundinho de sua cidade, de sua rua, de seu bairro, de seu país, o mundo cresceu muito. Para quem nascer agora, não vai haver nenhuma surpresa quando chegar a uma idade de compreensão mais abrangente das coisas. O susto é meu. É agora.


Há uma inquietação permanente rondando o meu imaginário. Fatos que chamamos atualmente de banalização de desgraças aconteciam, sempre aconteceram, porém ficavam restritos a um local, a uma região, agora se espalham pela terra num clique no mouse. Vêm em forma de pacotes diários, causam profundos choques, abalam convicções sólidas, geram anúncios apocalípticos, suscitam religiões, confundem mais que esclarecem e têm adoecido psiquicamente uma boa parte das pessoas que não se dão ao trabalho fazer uma digestão lenta de tanto alimento fornecido em forma de abertura de portos, cortinas, aeroportos, bibliotecas e canais de comunicação, tendo a internet como o boi que puxa essa carroça com tudo que está sendo considerado novidade.


O mundo diminuiu. E me diminuiu também diante de seu gigantismo todo agora colocado sobre os meus ombros, meus olhos, minha consciência habituada ao provincianismo das metrópoles. Isto mesmo: se considerar tudo o que está ao alcance em tempo real e fugazmente, sou provinciano. Pelo menos nas idéias.



“...mundo, mundo vasto mundo, se eu me chamasse Raimundo seria uma rima não seria uma solução.” ( Poema de Sete Faces - Drummond)


quinta-feira, 19 de novembro de 2009

A LEI É DURA...

Dentro do campus da Universidade Federal de Minas Gerais.

A vaga destinada para deficientes começava com o ângulo de 45 graus, onde terminavam as vagas paralelas ao meio fio. O carro estacionou entre o final do meio fio e a outra metade do carro ficou na entrada da vaga dos deficientes. Eram apenas duas vagas para essa finalidade. Sobrou uma e meia. Veio logo o reboque e exemplarmente começou a colocar o carro em cima do caminhão. O homem chegou esbravejando e o guarda nem quis saber de argumento. Ele disse que seu carro não ira ser levado de jeito nenhum, que ele era importante, aquilo poderia prejudicar o emprego do guarda.


Acho que podíamos acabar logo com a hipocrisia e criar leis especiais também para gente importante, pois no fundo é assim que as coisas funcionam, todo mundo chia, elas continuam importantes, a impunidade continua valendo para elas e o papel continua sagrado, intocável, imaculado dizendo que todos são iguais perante a lei e isso está logo nos primeiros artigos da constituição.


Artigo novo: “Todos são desiguais e perante a lei assim será observado, aplicando proporcionalmente a pena à importância que o cidadão tem na sociedade.” O critério? Poder e dinheiro.


Politicamente correto é dizer que o deficiente é portador de necessidades especiais. Universalmente incorreto é fazer com que a lei valha mais para um do que para outro. Ou dizer que uns valem mais que outros na hora a aplicação das leis.


Tem momentos que a raiva para não ser transformada em ato de heroísmo vão (dar um sopapo no arrogante) ou diante da impotência solitária, a única saída é um desabafo no papel. Saí de lá cantando Ultraje a Rigor : “inútil, a gente somos inútil...!!!”

terça-feira, 17 de novembro de 2009

SEDUÇÃO

Diante da pergunta sobre o que me seduz para um relacionamento afetivo, eu respondi como um pretendente a bom cozinheiro que sou. Arroz com feijão é uma combinação sedutora aos olhos e satisfaz ao estômago sempre que se está com aquela fome insurgente. Depois a gente passa a sentir com mais apuro os temperos neles colocados. Às vezes dá uma vontade de uma saladinha, uma carne, uns legumes ou ainda algum requinte, sem exageros. Variar os temperos também evita que a fome caia naquela rotina que enfastia logo na primeira garfada.

A sedução começou lá no arroz com feijão, lembra?




PARA VIVER UM GRANDE AMOR (Vinícius de Moraes)

Para viver um grande amor, preciso
É muita concentração e muito siso
Muita seriedade e pouco riso
Para viver um grande amor
Para viver um grande amor, mister
É ser um homem de uma só mulher
Pois ser de muitas - poxa! - é pra quem quer
Nem tem nenhum valor


Para viver um grande amor, primeiro
É preciso sagrar-se cavalheiro
E ser de sua dama por inteiro
Seja lá como for
Há de fazer do corpo uma morada
Onde clausure-se a mulher amada
E postar-se de fora com uma espada


Para viver um grande amor

Para viver um grande amor direito
Não basta apenas ser um bom sujeito
É preciso também ter muito peito
Peito de remador
É sempre necessário ter em vista
Um
crédito de rosas no florista
Muito mais, muito mais que na modista


Para viver um grande amor
Conta ponto saber fazer coisinhas
Ovos mexidos, camarões, sopinhas
Molhos, filés com fritas, comidinhas
Para depois do amor
E o que há de melhor que ir pra cozinha
E preparar com amor uma galinha
Com uma rica e gostosa farofinha

Para o seu grande amor?


Para viver um grande amor, é muito
Muito importante viver sempre junto
E até ser, se possível, um só defunto
Pra não morrer de dor
É preciso um cuidado permanente
Não só com o corpo, mas também com a mente
Pois qualquer "baixo" seu a amada sente
E esfria um pouco o amor
Há de ser bem cortês sem cortesia
Doce e conciliador sem covardia
Saber ganhar dinheiro com poesia
Não ser um ganhador
Mas tudo isso não adianta nada
Se nesta selva escura e desvairada
Não se souber achar a grande amada
Para viver um grande amor!

domingo, 15 de novembro de 2009

AH, SE EU FOSSE ROTEIRISTA...

A NOTÍCIA

Chuveiros podem abrigar bactérias perigosas, diz estudo

Cientistas americanos advertiram que o chuveiro pode oferecer um ambiente favorável para a contaminação por bactérias que causam distúrbios respiratórios. Os pesquisadores da Universidade de Colorado constataram que 30% das peças apresentavam um risco potencial.


A quantidade de Mycobacterium avium era cem vezes maior do que a encontrada normalmente na rede hidráulica das cidades. Esta bactéria forma um revestimento que adere ao interior do chuveiro e a água que sai pela peça pode lançar gotículas com grande concentração do microorganismo no ar. Essas gotículas podem ser inaladas e penetrar nas partes mais profundas dos pulmões, dizem os pesquisadores.


"Se você receber um jato de água na cara quando ligar o chuveiro, provavelmente vai receber uma quantidade especialmente alta de Mycobacterium avium, o que não é muito saudável." A infecção por Mycobacterium avium inclui sintomas como cansaço, tosse seca, respiração difícil e fraqueza.

Aparentemente, chuveiros de plástico podem abrigar mais bactérias do que os de metal, disse...

Os chuveiros podem ser ainda uma rota para a propagação de outras doenças infecciosas como um tipo de pneumonia chamada "doença dos legionários", e distúrbios provocados pela bactéria Pseudomonas aeruginosa.


Banheiras aquecidas e piscinas de spas apresentam um risco de infecção semelhante, de acordo com a Agência de Proteção à Saúde da Grã-Bretanha.


Fonte: www.bbc.co.uk/portuguese/ciencia/2009/09/

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A CRÔNICA

Ah, como eu gostaria agora de saber como se faz um roteiro para cinema. Um bom filme de suspense. Já estou com as idéias na cabeça e a câmera na mão. Imagino alguém (uma mulher bonita é chamativo para bilheteria) abre a torneira e recebe um jato de água aparentemente inocente. Poderia estar cantarolando desafinada, mas alegremente uma canção quando, de repente, começa a se coçar toda, a tossir sem saber o que está acontecendo. As bactérias são invisíveis Toca aquele trecho da música do filme Psicose (meu filme iria se chamar Neurose). Então num acesso enlouquecedor de tosse começa a perder o fôlego a e bater com toda a força na parede e a gritar desesperada por socorro. Vem o marido, arromba a porta achando se tratar de uma invasão de algum estranho que a espionava e vê a agonia da amada, desligando imediatamente a torneira e chamando o resgate, já que a voz da mulher a essa altura já está fraca, bem como seus movimentos. Feito o socorro, começa uma investigação médica daquela estranha manifestação no banho. Não havendo nada no interior do seu organismo, parte-se para a investigação do local (no meu filme eu ia contratar aquele Doutor bactéria chato da televisão, aqui ele iria ser muito mais útil). Finalmente (para não alongar demais o roteiro), descobre-se que o problema é a contaminação de todos os chuveiros de São Paulo (tem que ser na maior cidade, né? Afinal se fosse nos EUA adivinha se não seria em Nova Iorque?). Então a paranóia se instala. Os mais ricos, claro, vão mandar colocar uns aparelhos que matam todas as bactérias no reservatório de suas casas e apartamentos, ou seja, um descontaminante na caixa d’água. Ocorre que os ricos são minoria em todo o mundo, então o enredo vai se concentrar nas periferias e bairros menos abastados (senão também não teria mais graça nenhuma esse roteiro, não é mesmo?) As pessoas começam a evitar o banho. Não adiantaria procurar rios, cachoeiras, piscinas nem pensar, afinal, a bactéria vem das nascentes. Nem a companhia de água da cidade possui remédio eficaz. O suspense se agravaria com a falta de banho, já que em qualquer circunstância a falta de higiene traz doenças. É claro que no final o Dr Bactéria vai encontrar a solução salvadora da humanidade, com um produto desenvolvido num laboratório famoso que vai vender bilhões de reais (essa parte nunca entra nos filmes) e entre uns poucos mortos (nenhum mocinho nem mocinha) se salvarão todos.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

CADA UM NO SEU RETÂNGULO

Compartilhar a cama faz mal para a saúde, diz estudo



Dormir em camas separadas pode ser bom para a saúde e o relacionamento de um casal, de acordo com estudiosos do sono.


O especialista britânico Neil Stanley disse que compartilhar a cama com o parceiro pode causar brigas por ronco ou disputa pelo cobertor, e levar, assim, à perda de preciosas horas de sono.


Um estudo constatou que, em média, os casais sofrem 50% ou mais problemas ao dormir se compartilham a cama. Stanley disse que foi estabelecida uma ligação entre dormir mal e depressão, doenças cardíacas, derrame, distúrbios pulmonares, acidentes de trânsito e industriais, e divórcio. O especialista destacou que historicamente não era para as pessoas dormirem na mesma cama. Segundo ele, a tradição moderna do leito conjugal só começou com a Revolução Industrial, quando as pessoas que se mudavam para cidades superpopulosas enfrentaram escassez de espaço.


Antes da era vitoriana, era raro os casais casados dormirem em leitos conjugais. Na Roma Antiga, o leito conjugal era um lugar mais usado para relações sexuais, mas não para dormir. “Stanley disse que as pessoas hoje deveriam pensar em fazer a mesma coisa”. Depende do que satisfaz as pessoas. “Se elas dormem juntas e ambas dormem muito bem, não devem mudar isso, mas elas não devem ter medo de agir de maneira diferente.” "Todos nós sabemos como é ficar abraçado e depois dizer 'agora eu vou dormir' e ir para o lado oposto da cama. Então, por que não levantar e ir para outro quarto?"

. Fonte: www.bbc.co.uk/portuguese/ciencia


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A CRÔNICA


Casais felizes:

- Meu amor, você sabe que eu não fico sem seu ronco. É só ter a paciência de me esperar dormir primeiro. Se eu acordar no meio da noite lhe dou uma cutucada, você vira de lado e pronto! Estamos resolvidos. Smac! Boa noite querido!

- Boa noite, amor! Ponha uma toalhinha de rosto no travesseiro para o caso de você babar.


Casais infelizes:

- Ô seu peste, que parar com essa ronqueira1 Assim eu não consigo dormir. Por que você não vai para o outro quarto? E, além disso, você precisa parar com essa bebedeira. O ruído fica ainda mais insuportável. Além do cheiro de álcool no quarto. Ninguém merece!

- Que merda mulher, toma esse seu remédio aí e vê se não me amola, amanhã eu tenho que levantar cedo.

- Eu também. E além e trabalhar ainda tenho que fazer todas as tarefas domésticas, e cuidar das crianças sozinha. Humpf!


Às vezes a pessoa fica com aquela vontade de falar para o parceiro umas coisas que estão incomodando no relacionamento. Naqueles momentos quase imperceptíveis de tão raros, de “discutir a relação”. A verdade de um é sempre mais verdadeira do que a do outro. Então vem um embasamento científico para corroborar uma das teses. O que está a fim de pular fora do quarto ou da vida do outro, se apega com o argumento de um estudo de especialistas e solta a matéria. Propõe até que leiam juntos.

- Veja bem, amor, não sou eu que estou dizendo, é a ciência. Isso pode ser melhor para nós. Te amando ou não, você me amando ou não, o certo é que vamos poder viver mais, seja para o outro, seja para um outro.

- Ora, isso é coisa de quem não tem o que fazer, não acredito, não!

- É, mas naquela outra matéria que saiu sobre a preferência das mulheres por homens que fazem trabalhos domésticos você acreditou, né? Aquilo também é trabalho de cientista, sabia?


Agora, triste é para quem está a fim de se casar ou de sair da casa dos pais e poder dormir juntinho de seu amor. Em camas separadas somente depois que começar essa confusão aí de cima. Espero que não.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

SE GERAR EMPREGOS, PODE!

Sanduíches de presunto podem causar câncer

O presunto, o bacon, o salame e outros tipos de carne processada aumentam o risco de câncer de intestino ao longo da vida em aproximadamente 20%, afirma pesquisa recente. O W. C. R. F. (Fundo Mundial de Pesquisas de Câncer) afirmou que, apesar de a pesquisa não ter focado especialmente no efeito de comer carne processada na infância, a evidência do risco nos adultos tornou importante ensinar as crianças a evitar esse tipo de comida sempre que possível.

Cientistas afirmam que, no Reino Unido, aproximadamente 3700 casos de câncer de intestino poderiam ter sido prevenidos se todos comessem menos de 70g de carne processada por semana, o que equivale a três fatias fininhas de bacon. Colocar presunto no sanduíche do pequeno pode ser fácil e gostoso, mas pense em substituir esses alimentos por alternativas mais saudáveis, como peixe, queijos com pouca gordura (como o queijo branco), pequenas quantidades de frango ...

A entidade mundial também aproveitou pra fazer outro alerta: lanches que contém bebidas açucaradas e itens com alto índice de gordura e de calorias podem indiretamente aumentar o risco de câncer ao fazer as crianças ficarem acima do peso, levando os quilinhos extras à idade adulta.

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Fonte: http://revistapaisefilhos.terra.com.br/27/08/09

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A CRÔNICA


Outro dia eu falei de uma médica inglesa que, cansada de aconselhar dietas saudáveis radicalizou e especializou-se em aterrorizar os renitentes com sua nova profissão: estudar cadáveres de gente que come muita porcaria para alertar que se comessem melhor, não morreriam pela boca (do estômago). O alerta, claro fica para os que ficam Ela abre o “presunto” de cima abaixo e vai mostrando víscera por víscera, veia por veia e os períodos em que as gorduras, líquidos e tumores foram se acumulando. “Isso aqui é o excesso de doces, isso é o resultado dos embutidos, isso aqui são as gorduras em excesso, isso é o sal em demasia. Aqui poderia ter se regenerado se esse cara tivesse comido mais fibras.” Esse tipo de terapia de choque já funcionou com muito fumantes que vão fazer aqueles cursos com programa cujas aulas incluem a exposição de um pulmão de fumante e outro de não fumante. Só vendo.. Eu não parei, mas é um horror. Meu masoquismo é um caso à parte.


E não adianta também lutar contra a insensatez tanto de quem fabrica quanto de quem consome. O poder da indústria vai além do dinheiro. O convencimento pela propaganda intimidatória é enorme diante da ignorância. É só irem aos meios de comunicação fazer um comunicado relevante que o argumento passa a ser aceito como verdade sem muitos questionamentos.


Chantagem, então, é a principal arma. Primeiro começam a mostrar aquelas fábricas limpinhas (dá até para sentir o cheiro de limpeza na notícia). Depois falam dos milhares de empregos que geram para o bem do país e depois dos programas sociais. Ajudam uma escola aqui, uma comunidade ali e seguem nos matando sem dó nem piedade. E nós seguimos comendo veneno sem auto piedade.


Aliás, esse apelo do emprego está na moda para tudo quanto é destruição. Desmatar gera empregos, fabricar agrotóxico gera empregos, fabricar cigarros gera empregos, fabricar bebidas gera empregos, até o cassino que está sendo ensaiado pelos bingos gera empregos, queremos mais o que? Vamos morrendo de emprego, os donos do dinheiro agradecem. Ah, e é bom não esquecermos que temos que nos reproduzir. É preciso botar mais gente no mundo para ocupar os empregos que são gerados.


Obs: Esta é uma crônica de humor. Cada um sabe a delícia e a consequência de comer o que quiser ou o que tiver para comer.


sexta-feira, 6 de novembro de 2009

VIDA DE PEÃO - RISADINHA

De longe avistamos o posto da polícia rodoviária. Eles também nos avistaram e correram para a pista ordenando a parada com sinais de braços. E foram logo mandando descer todos os cinco ocupantes do corcel verde limão de rodas de magnésio e uma antena do tamanho de um poste. Tão grande que não precisava captar ondas de rádio. Acho que ela as buscava onde quer que estivessem vagando pelo céu.


O Risadinha, com esse apelido auto explicativo, ria de nervoso, de alegria, de tristeza, para falar, chorar, até comendo. Só nunca dormi com ele para saber se ria também dormindo. E o guarda implicou:

- Tá rindo de que, negão?

-Nada não, senhor.

- É melhor ir tirando esse chapelão e esses óculos ray ban. Não tem barbeador em casa também não?

- Sim, senhor.

- Cadê a carteira de motorista e a identidade?

Pegou os documentos e foi lá para dentro da sala dos horrores, onde ficam. Saiu um guarda dando ordem de prisão.

- A carteira é falsa.

Nem assim o sorriso do Risadinha fechava. Mesmo eu acostumado já estava nervoso com ele.

Ponderei com o guarda:

-Seu guarda, nós somos de uma comissão de demitidos. A empresa está dispensando em massa e os deputados mandaram que viéssemos à assembléia legislativa para relatar os fatos e apoiarem os trabalhadores. Somos todos pais de família, igual o senhor deve ser. Por um instante ele amorteceu a exaltação, mas chamou o seu superior, que recomeçou com perguntas:

- Por que você, sendo Mineiro, nascido em Inhapim, morando em Mariana há mais de 10 anos, tirou carteira de motorista em São Paulo no ano passado?

- É que eu aproveitei as férias na casa de uns parentes, sabe como é, né? Eles me disseram que lá era mais fácil.

- Hum..., - ô sargento, confere essa conta de novo.


O cara refez umas três vezes e achou a coincidência dos números com o dígito final para alívio nosso, nessa altura, já mais de uma hora atrasados para o compromisso. O sargento havia errado no cálculo que se fazia com os números da carteira de motorista que atestavam se o prontuário era verdadeiro. E finamente nos liberou. Livramos a cara, mas não conseguimos os empregos de volta.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

BRIGA DE RUA

A senha era um recado de alguém da turma:

- Fulano mandou dizer que vai te pegar lá fora.

O respeito pela inviolabilidade do lar, da escola e do local de trabalho era um combinado de ética. Não estava escrito mas agia como lei, pois o respeito age. A gente ficava organizando torcida para a briga depois da aula.


Lá fora, a turma do êh, êh, êh, êh, - atiçando. A turma do “deixa disso”, só depois que esquentava o agarra-agarra é que entrava para separar. Brigava-se por nada. Mas tinha-se uma ética da desavença. Arma, de espécie alguma. Tinha-se que ser em pé (ou mão) de igualdade. Havia outras modalidades de rivalidades: rua de baixo contra a rua de cima, bairro contra bairro, turma do bom da boca, turma do cara mau.


Não há mais briga de rua. Raridade. Resolvem-se todas as diferenças à bala, à faca, paus, pedras e machados. Quando alguém desperta os sentimentos mais primitivos em outro alguém, o caminho que o progresso humano tem indicado é o da eliminação do adversário. É bom que se diga que a violência de espécie alguma é defensável.


Teve os tempos das brigas de rua. Uma violência mais honesta e menos covarde, mesmo se um lado é mais forte que outro. Há a possibilidade da defesa e da desforra. As turmas de ruas de outrora, evoluíram hoje para as gangues de extermínio. As brigas se davam por terrenos, sim. Terrenos de namoradas, ciúmes de irmã, dos times de futebol da rua de baixo contra a rua de cima. Uma valentia gratuita, mas que nunca passava de uns safanões ou uns chutes na bunda. Nada comparado a extermínio com dezenas de tiros de atualmente. Acho até mesmo que essa turma de hoje é mais medrosa. Só tem valentia armada. Isso sem falar da violência institucional, com a qual muitos concordam quando o estado a pratica em nossa pretensa e quase sempre obscura defesa.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

UMA LOUCURA QUALQUER

Assentei um pouco as minhas inquietações no dia em que resolvi assumir que uma porção de loucura faz mesmo parte inseparável de mim. Meu primeiro espanto foi quando deixei de beber, de jogar compulsivamente tudo o que se referia a um desafio mental visando superações (e tentar a tal da sorte também, claro). Tinha ao mesmo tempo parado de fumar e voltei. Pensei: assim não dá, estou ficando certinho demais. Tenho que ter algo que aplaque a fúria primitiva. Em vez de sair por ai matando decidi abrandar a minha ira através da auto destruição pela nicotina e alcatrão. Os únicos vícios que me haviam restado eram: fazer palavras cruzadas no banheiro, ler jornais todos os dias e comer uma banana pela manhã, já que disseram que quem come uma banana por dia não visita médicos. E muitos desses estão ficando loucos (é o que dizem).


Agora mesmo, nessa madrugada silenciosa, uma raridade na cidade grande, estava aqui ouvindo os pingos da água filtrando. Contei uma gota a cada 24 segundos. Fui logo trocar a vela. Calculei rapidamente que, sendo 7,5 litros a capacidade do filtro, eu só ia beber água filtrada daqui a 82 horas. Torturante, mas tolerável diante da sede que mata. Tortura, dizem que se for física e não matar, a medicina conserta. Já para a psicológica, só mesmo desenvolvendo uma certa resiliência.


Tem umas coisas também que eu acho loucura dos outros, mas sou tributado como louco é exatamente por isso. Exemplo: Parei de assistir aos programas de televisão, feito novelas, programas de auditório. Vejo aos jornalísticos, documentário e filmes. Só. Me consideram um anormal. Com é que pode? “Televisão é um item essencial numa casa”, já me disseram. Eu sei, tem até duas e com bastante utilidade: enfeitam o ambiente, economizam na conta de energia estando desligadas e preenchem aquele espaço vazio quando se recebe visitas indesejáveis ou sem assunto. Outro exemplo: desde criança uma idéia fixa me persegue: a de que eu iria morrer de acidente automobilístico. Fiquei uma eternidade sem entrar em qualquer automóvel. Hoje uma das coisas de que mais gosto é dirigir. E tenho também o hábito de andar na contramão. Mas só do senso comum. Isso talvez me mate algum dia. De depressão ou de uma agonia fulminante.


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Inspirada na crônica UM POUCO DE LOUCURA NISSO, da genial Dolce Vita do Recanto das Letras


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